Descoberta foi realizada por grupo de monitoramento após três anos de
coleta de dados
No dia 13 de março, a astronomia amadora paraibana foi destaque nacionalmente com a observação inédita de um fenômeno raríssimo chamado de Gigantic Jets (Jatos Gigantes), aqui no Brasil. O registro foi feito por um estudante de meteorologia em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, através de câmeras da Rede Brasileira de Detecção de Meteoros (Bramon), rede colaborativa de astrônomos profissionais e amadores brasileiros, que ele faz parte.
E, novamente, a Bramon fez outra grande e importante descoberta astronômica. A data 20 de março de 2017 torna mais uma data importante para a astronomia na Paraíba e para a ciência no
Brasil. O Meteor Data Center, órgão ligado à União
Astronômica Internacional incluiu, pela primeira vez na sua lista geral de
chuvas de meteoros, duas descobertas feitas por brasileiros.
São
as recém batizadas Epsilon Gruids (EGR) e a August Caelids (ACD), localizadas
nas constelações do Grou e do Cinzel, respectivamente.
As
descobertas couberam à Rede Brasileira de Observação de Meteoros – BRAMON que
desde 2014 tem realizado um trabalho de monitorar os céus do país, registrando
os meteoros que surgem. Atualmente a rede conta com 82 estações de monitoramento, distribuídas em 19
estados do Brasil. E ao longo deste tempo de atuação possui em seu banco de
dados, vídeos de mais de 86.000 meteoros.
Assim, se firma como uma das maiores redes de monitoramento do mundo e
uma das poucas do hemisfério sul da Terra.
AS CHUVAS DE METEOROS
O
planeta Terra, em seu giro anual ao redor do Sol encontra, algumas vezes,
pequenas partículas no espaço. E toda vez que estas partículas entram na
atmosfera e queimam, formam os rastros luminosos dos meteoros. Todos nós já
vimos as chamadas “estrelas cadentes” e,
ao longo do ano, algumas datas são especialmente favoráveis aos seus
avistamentos. São as noites onde ocorrem as chuvas de meteoros.
A
União Astronômica Internacional mantém o catálogo atualizado de todas estas
“chuvas”, com as datas e as posições no céu em que são visíveis. A lista possui
quase 800 grupos de meteoros.
Um
dos grandes interesses da BRAMON é registrar um mesmo meteoro sob vários pontos
de vista. Isto é, ter vídeos de um mesmo meteoro gravados em cidades
diferentes. Isto possibilita determinar a órbita que o referido meteoro possuía
antes de encontrar a Terra pelo caminho.
Assim,
em três anos de operação, foram determinadas 4205 órbitas. A grande maioria de
meteoros participantes de “chuvas” já catalogadas. Outros, num primeiro olhar,
pareciam apenas vir de pontos aleatórios do céu.
A OPORTUNIDADE
E
o ponto de partida dessa pesquisa teve participação importante da Paraíba. De
posse dos dados de todos os meteoros da rede nos anos de 2014 e 2015, Marcelo
Zurita, que é operador de 3 estações em João Pessoa, montou o vídeo cujo link
está abaixo. Ele mostra ao longo do tempo os pontos no céu de onde surgiram os
meteoros triangulados por pelo menos duas estações da rede. Foi percebida uma
concentração deles surgindo de uma mesma região na Constelação do Grou, em uma
mesma época do ano e com velocidades semelhantes. Eram fortes indícios de que
poderia haver ali, uma nova chuva de meteoros que ainda não havia sido
descoberta.
Foi hora de iniciar uma pesquisa
para saber se, dentre os meteoros que pareciam vagar aleatoriamente pelo
sistema solar, existiria alguma nova família a ser descoberta. Foi então, em
março de 2016, que o diretor e um dos fundadores da BRAMON, Carlos Di Pietro
(São Paulo – SP), iniciou os trabalhos junto com Marcelo Zurita, para comprovar
cientificamente que esses meteoros pertenciam a uma chuva até então desconhecida.
Mas confirmar uma nova chuva de meteoros não é tarefa fácil, uma série de
testes devem ser empregados e a matemática envolvida não é das mais simples.
A DESCOBERTA
No
final de janeiro de 2017, outro integrante da BRAMON, Lauriston Trindade (Maranguape
– CE) integrou o grupo de pesquisa com objetivo de tocar os cálculos e
conseguir a validação da descoberta.
“Foram centenas de cálculos,
envolvendo milhares de meteoros. Foram dezenas de leituras de artigos para o
entendimento dos cálculos, ferramentas matemáticas tiveram que ser totalmente
desenvolvidas para facilitar o trabalho. Foi um mês de trabalho dedicado. E
para a alegria de todos, não só foi possível validar o primeiro grupo
descoberto como acabei encontrando um segundo grupo válido. Carlos Di Pietro
juntamente com Jakub Algol Koukal, um experiente astrônomo da República Tcheca
e da Rede Europeia de Videomonitoramento de Meteoros, conferiram todos os
cálculos e eles foram aprovados. Assim, a BRAMON estava prestes a conseguir a
descoberta de duas chuvas de meteoros”, disse Lauriston Trindade.
A VALIDAÇÃO
De
posse dos dados orbitais das duas “chuvas” o Meteor Data Center foi comunicado,
no último dia 9 de março, sendo que em 20 de março, as duas novas chuvas
descobertas pela BRAMON foram incluídas na lista oficial da União Astronômica
Internacional - IAU. Tanto a Epsilon Gruids quanto a August Caelids foram
inclusas com o status “Working pro tempore”. Uma vez que são “chuvas” com baixa
taxa de ocorrência de meteoros, e ainda carecem de mais observações, que agora
serão feitas por outros observadores espalhados pelo mundo.
Descobertas
desta natureza possuem muitos significados para a comunidade científica, pois
mostra o poder de uma rede de pesquisa voluntária e colaborativa, formada por
cidadãos comuns que tem interesse em produção e divulgação científica.
AS NOVAS CHUVAS
Ambas
as chuvas descobertas tem um baixo índice de meteoros por hora. Isso é normal,
uma vez que todas as grandes chuvas de meteoros já foram mapeadas há mais
tempo. Para a validação da descoberta, foram utilizados ao todo, 17 meteoros
registrados no Brasil e dois meteoros registrados nas Ilhas Canárias. Esses
últimos foram disponibilizados gentilmente pela EDMONd.
A
Epsilon Gruids foi a primeira das chuvas recém-descobertas ocorre no mês de
junho, tendo sua máxima no dia 11. Seus meteoros parecem irradiar da
constelação do Grou, próximo à estrela Epsilon Gru, que dá nome a essa chuva.
Ela foi validada com 7 meteoros brasileiros e 2 da rede europeia.
Já
a August Caelids ocorre na Constelação do cinzel. Seu radiante está entre as
estrelas Alfa e Beta daquela constelação e sua máxima se dá no dia 5 de agosto
(mesma data de aniversário da cidade de João Pessoa). Seu nome é uma composição
do mês em que ela ocorre e do nome da constelação em latim.
Na
imagem abaixo, uma representação dos radiantes das duas chuvas no céu.
A BRAMON
A BRAMON – Rede Brasileira de
Observação de Meteoros é uma organização aberta e colaborativa, mantida por
voluntários e colaboradores e sem fins lucrativos cuja missão é desenvolver e
operar uma rede para o monitoramento de meteoros, com o objetivo de produzir e
fornecer dados científicos à comunidade através da análise de suas capturas,
que são realizadas por estações de monitoramento mantidas por seus membros.
Foi fundada em janeiro de 2014 e
conta atualmente com 59 operadores e 82 estações em 19 estados do país.
Mais em: http://www.bramonmeteor.org/
NA PARAÍBA
Na Paraíba, a BRAMON está presente desde 2015, e conta atualmente com 9
estações, sendo 6 em João Pessoa, 2 em Campina Grande e 1 em Santa Rita. Ao
todo são 5 pessoas operam essas estações, instaladas em suas casas,
apartamentos e escritórios. Além de manter o equipamento funcionando e
registrando a passagem de meteoros, todos tem a responsabilidade de analisar os
meteoros registrados, transformando as imagens em dados que serão
posteriormente analisados em conjunto com todas as estações do país,
possibilitando descobertas como essas.
Contatos para maiores
informações:
Carlos
Augusto Di Pietro (Diretor Presidente da BRAMON):
e-mail:
[email protected]
Fone/Whastapp: 11
970723427
Lauriston
Trindade (BRAMON):
e-mail:
[email protected]
Fone/Whatsapp:
85 984340090
Na Paraíba:
Marcelo
Zurita (Diretor técnico da BRAMON)
João
Pessoa
e-mail:
[email protected]
Fone/Whatsapp:
83 99926-1152
Ubiratan
Nóbrega Borges (Diretor Regional Nordeste):
Campina
Grande
e-mail:
[email protected]
Fone/Whatsapp:
(83) 99994-6652
Diego
Rhamon Reis (operador)
Campina
Grande
Fone: (83) 98787-2499
Lucas
Tranquilino da Silva (operador)
Santa
Rita
(83) 98604-8971
Marcos
Jerônimo Roque Barreto (operador)
João
Pessoa